quarta-feira, 17 de abril de 2013

O grande desafio


        No tempo das fadas, havia um gato que vivia em Leiria. O seu nome era Valente. Ele era o guardião do Castelo de Leiria e tinha como função proteger a família real. Chamavam-lhe heroico porque ele gostava muito de ajudar as pessoas e nunca desistia de nada e de ninguém. 
       Numa bela tarde de primavera, a princesa foi ao jardim admirar as flores que cresciam graciosamente. Reparou numa flor especial que crescera no canteiro. Ela era diferente de todas as outras porque as suas pétalas mudavam de cor constantemente. Curiosa, aproximou-se da flor e cheirou-a para sentir o seu aroma. Mas, de repente, a princesa ficou tonta, confusa, sem forças até que caiu no chão, desmaiada. O gato que por ali passava viu-a caída no chão e foi de imediato chamar o rei e a rainha.
– Sua Majestade, encontrei a princesa perto do canteiro caída no chão sem sentidos! – disse o gato muito aflito.
– Vamos para lá imediatamente! – gritou a rainha.
Quando chegaram perto da princesa, tentaram acordá-la mas ela não reagiu. Então, o rei ordenou que o Valente fosse chamar o médico. Enquanto o médico não chegava, a rainha reparou que no canteiro havia uma flor que nunca tinha visto.
– Está ali uma flor muito esquisita. Será que foi ela que provocou o desmaio da princesa? – interrogou-se a rainha.
Nisto, o médico e o Valente chegaram. A rainha mostrou a flor ao médico e disse:   
– Sr. Doutor, terá sido esta flor que causou o desmaio da minha filha?
– Provavelmente, deve ter sido – suspeitou o médico. – Mas eu não conheço a cura, é melhor irmos pesquisar na biblioteca do castelo. 
             Depois de lerem muitos livros sobre plantas, encontraram a solução: uma erva rara que cura desmaios. Mas essa erva só existia num local longínquo, num palácio subterrâneo que tinha muitas armadilhas.
– Tarefas difíceis são para mim, o guardião oficial do castelo. Vou-me já pôr a caminho – afirmou o Valente.
O gato foi preparar a mochila para a viagem não se esquecendo de colocar o seu paté, água, o mapa, uma bússola, uma corda, uma lanterna e uns binóculos. Dirigiu-se às traseiras do castelo e começou a aquecer o balão de ar quente para iniciar a sua missão. 
           Passado umas horas, o Valente avistou o local onde era suposto estar o tal palácio. Fez o balão descer, pegou na mochila e começou a procurar a entrada do palácio. Reparou que havia uma zona no chão cheia de folhas e de lama e, curioso, decidiu ir averiguar, era uma porta de entrada do palácio que estava camuflada. Entrou com muito cuidado e foi dar a um salão repleto de belas e enormes estátuas. Tocou numa delas e, repentinamente, o chão começou a tremer e abriu-se uma fenda por onde o Valente caiu. Ele foi parar a uma divisão do palácio que tinha uma porta e ao seu lado estava um aviso: “ Para a porta se abrir tem que ordenar as letras e descobrir a palavra-chave.” O gato pôs patas-à-obra e começou logo a tentar formar a palavra. Após algumas tentativas, a porta abriu-se automaticamente quando o Valente construiu a palavra  DESMAIO.   

O gato entrou apressadamente antes que a porta se voltasse a fechar. Foi dar à enfermaria do palácio, viu um grande armário branco e abriu-o. Lá dentro havia imensas prateleiras com diversos frascos. O Valente começou a ler as etiquetas dos frascos:
       – Dor de cabeça, dor de barriga, febre, dor de garganta, constipação, dor de ouvidos… ah, aqui está, a erva que cura desmaios! 


           O gato pegou no frasco, com muito cuidado, colocou-o na mochila e começou à  procura  da  saída.  Até  que encontrou  uma  escadaria
antiga que dava acesso à superfície. Subiu as escadas rapidamente e dirigiu-se para o seu balão.
Quando regressou ao castelo e depois de aterrar o balão, veio ter com ele o Tiago, um vizinho da família real.
– Valente, encontraste a erva? – questionou o rapaz.
– Claro que sim! – respondeu o Valente com entusiasmo.
– Enquanto dobras o balão, eu poderia levar a erva à rainha a correr – sugeriu o Tiago.
O gato concordou e o rapaz, em vez de fazer o que combinou, fugiu com o frasco. O Tiago tinha o sonho de ser o guardião da família real e pensou que se o gato falhasse a missão, ele concretizaria o seu desejo.
Quando o Valente chegou à beira da família real, viu que a princesa continuava desmaiada e perguntou muito admirado:
–O Tiago não vos entregou a erva que cura?
– Qual Tiago? – perguntou o rei.
– Aquele rapaz que vive ali em frente – retorquiu a rainha.
– Vou já pôr-lhe as garras em cima! – disse o Valente furioso.
E lá foi ele tentar descobrir onde estava o Tiago. Enquanto procurava alguma pista do rapaz, encontrou uma velhinha que passava pela rua vagarosamente. O gato resolveu perguntar-lhe:
– Minha senhora, sabe onde mora um rapaz chamado Tiago?
– Sei, sim. Mora na casa ao lado do Ponto Fresco – disse a velhinha.
–Ainda bem que me diz! É que ele roubou-me uma erva curativa que irá acordar a princesa.    
Ele foi de imediato bater à porta da casa do rapaz. Bateu, bateu mas ninguém abriu a porta. Como o Tiago sabia que era o Valente tentou escapar pela janela das traseiras. Só que a velhinha estava escondida atrás de um arbusto e mal viu o rapaz a tentar fugir, pegou na bengala e deu-lhe uma pancada na cabeça. O Tiago caiu redondo no chão e quando o Valente se apercebeu disso saltou para cima do rapaz e tirou-lhe o frasco do bolso. 




– Muito obrigado, minha senhora, pela ajuda que me deu – agradeceu o gato.
Ele, muito apressado, dirigiu-se ao castelo e entregou a erva à rainha. Depois de ter agradecido, foi logo ao quarto da sua filha e deu-lhe a cheirar a erva. Num instante, a princesa recuperou os sentidos, abriu os olhos e sorriu.
A partir desse dia, a princesa jamais voltou a cheirar flores que não conhecia. Por sua vez, o Valente aprendeu a não confiar em qualquer pessoa. 



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